Escola Secundária de Seomara da Costa Primo

O futuro é AQUI! Aposta na tua escola!

Thursday, February 25, 2010

Encontros com a História

De 15 a 19 de Março de 2010

BIBLIOTECA DA ESCOLA

Neste ano em que se reflecte sobre a República, quer ao nível do Ensino Básico, quer ao nível do Ensino Secundário, a presente Exposição vem relembrar o valor da Democracia e apelar para uma vivência activa da Cidadania na sociedade de hoje.
Neste sentido, na semana de 15 a 19 de Março de 2010, visite a Exposição sobre o tema “A Democracia Actual” na Biblioteca Escolar e assista a uma Palestra sobre o tema “Os Caminhos de Abril” por parte de um Capitão de Abril.


OBJECTIVOS

1. Motivar para uma participação consciente e cívica na Democracia Portuguesa Actual.

2. Fomentar o reconhecimento das Responsabilidades inerentes às Liberdades Pessoais em Democracia.

3. Descobrir os Direitos e Deveres fundamentais de um Cidadão num Estado Democrático Contemporâneo.

4. Apelar para uma nova prática de Cidadania Activa na sociedade de hoje.


PROGRAMA


A – Exposição “25 de Abril” do Museu da República e da Resistência de Lisboa.

B – Exposição de trabalhos, em Power Point, produzidos pelos alunos dos EFAS Secundário sobre o “25 de Abril de 1974”.

C – Exposição de trabalhos de alunos do Ensino Regular Básico e Secundário e dos EFAS Básico e Secundário subordinada ao tema “Imagens da Democracia”.

D – Palestra sobre “Os Caminhos de Abril” por um Capitão de Abril.

E – Amostra de livros, do espólio da Biblioteca Escolar, sobre o Tema, bem como de objectos relacionados com o 25 de Abril de 1974 (Jornais de época e Instrumentos de Tortura alusivos à PIDE)

F – Visionamento de Filme sobre a temática (Quinta-feira).


Professora Organizadora: Maria Manuela Bessa, com a colaboração dos docentes do Agrupamento 400, História, bem como dos formadores da Área de Competências-chave de Cidadania e Profissionalidade dos Cursos EFAS (Básico e Secundário) e vários outros docentes.

Monday, February 8, 2010



" O perfume de Hércules"

Quando acordei naquele dia,olhei pela janela e ví que chovia a cántaros,chovia como se Deus estivesse zangado com o mundo,e quisesse limpá-lo num esforço vão de purificá-lo com a agua das nuvens.
Levantei-me e espreguicei-me freneticamente,lembrando-me vagamente da noite anterior.
vinham-me à memória imagens de uma festa de máscaras,onde se encontrava pessoal com vestimentas,digamos que extravagantes que só eram usadas numa única altura do ano: O carnaval! Invadiu-me uma sensação estranha ao não conseguir distinguir o que realmente aconteceu e o que banalmente sonhei naquela noite.
Lembrei-me de estar a dançar com um rapaz, lembro-me de ter pensado mal o vi, que de longe parecia mais um bonitão pronto a engatar qualquer rabo-de-saia que lhe passasse pelas mãos. Como todo o mundo,tinha uma máscara dourada que lhe cobria a face,deixando-lhe a descoberto apenas os lábios,lábios esses que me deixaram com uma vontade selvagem de os beijar.
Os seus olhos eram da cor do mais doce mel,era alto e corpulento e como fato de carnaval, tinha escolhido ser Hércules ,posso dizer-vos que não lhe faltava nada,até me sentia ridicula no meu traje de bailarina de dança do ventre.
Sem querer,os seus olhos encontraram os meus,dirigiu-me um sorriso ameno e deu-me a mão.Estava realmente a puxar-me para dançar! Nem acreditava na minha sorte!
Dançamos,dançamos até não sentir-mos o dedo dos pés.Os nossos corpos estavam tão juntos,que poderia dizer-se que,naquele momento,eram um só! Sentia as suas mãos grandes e fortes nas minhas costas,sentia também a sua respiração no meu ouvido,sentia aquela fragancia no pescoço dele que me atordoava os sentidos.Ele cheirava a paixão,a desejo, a tentação. Céu! Cheirava a fruto proibido..
..Mas naquele momento,o meu momento, nada me faria parar de dançar e sonhar, pois tinha comigo o homem mais desejado daquela festa!
Não sei como cheguei à minha casa,muito menos à minha cama.Só sei que acordei e o céu chorava como se nunca mais fosse parar.
Não queria acreditar que tudo aquilo tinha sido um sonho,queria agarrar-me estupidamente àquela pequena esperança,mas nada me dava provas do contrário.
-Helena,vem tomar o pequeno almoço!! -Gritou a minha mãe - .vá,desce que o leite vai arrefecer! - ordenou -.
Ia a descer quando choquei com a com a minha mesinha de cabeceira,caíram-me os papeis todos e quando ía ajoelhar-me para recolher tudo,reparei em algo que cintilava ao longe no bolso do meu casaco..
...Aproximei-me,não fazia a minima ideia de que coisa brilhante tinha posto eu no bolso.
Quando tirei a mão do bolso,tinha entre os meus dedos, uma máscara dourada,meu Deus,e com o brilho dela veio a alegria e a esperança ao meu coração! Na parte de trás,estava um número de telefone..o número dele! Estava tão feliz pela minha sorte que levei a máscara de encontro aos lábios para a beijar,e de repente sentí aquele perfume; o mesmo perfume que me fez tremer as pernas nos braços dele, o mesmo perfume que me roubou os sentidos naquela noite,era o perfume dele!..
..Na minha mente sonhadora,só havia um nome a pairar no consciente! Encostei a minha face à janela,vendo a chuva cair,e disse baixinho,para mim mesma:
-Sim! É Amor Amor de Cacharel! -.

Para todos, um Feliz São Valentim!
Laura Camará

Sunday, February 7, 2010

Rosa Lobato de Farfia - Autobiografia

No dia 2 de Fevereiro de 2010, aos 77 anos, morre Rosa Lobato de Faria.

Rosa Lobato de Faria

A u t o b i o g r a f i a


Quando eu era pequena havia um mistério chamado Infância. Nunca tínhamos ouvido falar de coisas aberrantes como educação sexual, política e pedofilia. Vivíamos num mundo mágico de princesas imaginárias, príncipes encantados e animais que falavam. A pior pessoa que conhecíamos era a Bruxa da Branca de Neve. Fazíamos hospitais para as formigas onde as camas eram folhinhas de oliveira e não comíamos à mesa com os adultos. Isto poupava-nos a conversas enfadonhas e incompreensíveis, a milhas do nosso mundo tão outro, e deixava-nos livres para projectos essenciais, como ir ver oscilar os agriões nos regatos e fazer colares e brincos de cerejas. Baptizávamos as árvores, passeávamos de burro, fabricávamos grinaldas de flores do campo. Fazíamos quadras ao desafio, inventávamos palavras e entoávamos melodias nunca aprendidas.

Na Infância as escolas ainda não tinham fechado. Ensinavam-nos coisas inúteis como as regras da sintaxe e da ortografia, coisas traumáticas como sujeitos, predicados e complementos directos, coisas imbecis como verbos e tabuadas. Tinham a infeliz ideia de nos ensinar a pensar e a surpreendente mania de acreditar que isso era bom.
Não batíamos na professora, levávamos-lhe flores.

E depois ainda havia infância para perceber o aroma do suco das maçãs trincadas com dentes novos, um rasto de hortelã nos aventais, a angustia de esperar o nascer do sol sem ter a certeza de que viria (não fosse a ousadia dos pássaros só visíveis na luz indecisa da aurora), a beleza das cantigas límpidas das camponesas, o fulgor das papoilas. E havia a praia, o mar, as bolas de Berlim. (As bolas de Berlim são uma espécie de ex-libris da Infância e nunca mais na vida houve fosse o que fosse que nos soubesse tão bem).

Aos quatro anos aprendi a ler; aos seis fazia versos, aos nove ensinaram-me inglês e pude alargar o âmbito das minhas leituras infantis. Aos treze fui, interna, para o Colégio. Ali havia muitas raparigas que cheiravam a pão, escreviam cartas às escondidas, e sonhavam com os filmes que viam nas férias. Tínhamos a certeza de que o Tyrone Power havia de vir buscar-nos, com os seus olhos morenos, depois de nos ter visto fazer uma entrada espampanante no salão de baile onde o Fred Astaire já nos teria escolhido para seu par ideal.

Chamava-se a isto Adolescência, as formas cresciam-nos como as necessidades do espírito, música, leitura, poesia, para mim sobretudo literatura, história universal, história de arte, descobrimentos e o Camões a contar aquilo tudo, e as professoras a dizerem, aplica-te, menina, que vais ser escritora.

Eram aulas gloriosas, em que a espuma do mar entrava pela janela, a música da poesia medieval ressoava nas paredes cheias de sol, ay eu coitada, como vivo em gran cuidado, e ay flores, se sabedes novas, vai-las lavar alva, e o rio corria entre as carteiras e nele molhávamos os pés e as almas.

Além de tudo isto, que sorte, ainda havia tremas e acentos graves.
Mas também tínhamos a célebre aula de Economia Doméstica de onde saíamos com a sensação de que a mulher era uma merdinha frágil, sem vontade própria, sempre a obedecer ao marido, fraca de espírito que não de corpo, pois, tendo passado o dia inteiro a esfregar o chão com palha de aço, a espalhar cera, a puxar-lhe o lustro, mal ouvia a chave na porta havia de apresentar-se ao macho milagrosamente fresca, vestida de Doris Day, a mesa posta, o jantarinho rescendente, e nem uma unha partida, nem um cabelo desalinhado, lá-lá-lá, chegaste, meu amor, que felicidade! (A professora era uma solteirona, mais sonhadora do que nós, que sabia todas as receitas do mundo para tirar todas as nódoas do mundo e os melhores truques para arear os tachos de cobre que ninguém tinha na vida real).

Mas o que sabíamos nós da vida real? Aos 17 anos entrei para a Faculdade sem fazer a mínima ideia do que isso fosse. Aos 19 casei-me, ainda completamente em branco (e não me refiro só à cor do vestido). Só seis anos, três filhos e centenas de livros mais tarde é que resolvi arrumar os meus valores como quem arruma um guarda-vestidos. Isto não, isto não se usa, isto não gosto, isto sim, isto seguramente, isto talvez. Os preconceitos foram os primeiros a desandar, assim como todos os itens que à pergunta porquê só me tinham respondido porque sim, ou, pior, porque sempre foi assim. E eu, tumba, lixo, se sempre foi assim é altura de deixar de ser e começar a abrir caminho às gerações futuras (ainda não sabia que entre os meus 12 netos se contariam nove mulheres). Ouvi ontem uma jovem a dizer, a revolução que nós fizemos nos últimos anos. Não meu amor: a revolução que NÓS fizemos nos últimos 50 anos. Mas não interessa quem fez o quê. É preciso é que tenha sido feito. E que seja feito. E eu fiz tudo, quando ainda não era suposto. Quando descobri que ser livre era acreditar em mim própria, nos meus poucos, mas bons, valores pessoais.

Depois foram as circunstâncias da vida. A alegria de mais um filho, erros, acertos, disparates, generosidades, ingenuidades, tudo muito bom para aprender alguma coisa. Tudo muito bom. Aprender é a palavra chave e dou por mal empregue o dia em que não aprendo nada. Ainda espero ter tempo de aprender muita coisa, agora que decidi que a Bíblia é uma metáfora da vida humana e posso glosar essa descoberta até, praticamente, ao infinito.

Pois é. Eu achava, pobre de mim, que era poetisa. Ainda não sabia que estava só a tirar apontamentos para o que havia de fazer mais tarde. A ganhar intimidade, cumplicidade com as palavras. Também escrevia crónicas e contos e recados à mulher-a-dias. E de repente, aos 63 anos, renasci. Cresceu-me uma alma de romancista e vá de escrever dez romances em 12 anos, mais um livro de contos (Os Linhos da Avó) e sete ou oito livros infantis. (Esta não é a minha área, mas não sei porquê, pedem-me livros infantis. Ainda não escrevi nenhum que me procurasse como acontece com os romances para adultos, que vêm de noite ou quando vou no comboio e se me insinuam nos interstícios do cérebro, e me atiram para outra dimensão e me fazem sorrir por dentro o tempo todo e me tornam mais disponível, mais alegre, mais nova).

Isto da idade também tem a sua graça. Por fora, realmente, nota-se muito. Mas eu pouco olho para o espelho e esqueço-me dessa história da imagem. Quando estou em processo criativo sinto-me bonita. É como se tivesse luzinhas na cabeça. Há 45 anos, com aquela soberba muito feminina, costumava dizer que o meu espelho eram os olhos dos homens. Agora são os olhos dos meus leitores, sem distinção de sexo, raça, idade ou religião. É um progresso enorme.

Se isto fosse uma autobiografia teria que dizer que, perto dos 30, comecei a dizer poesia na televisão e pelos 40 e tais pus-me a fazer umas maluqueiras em novelas, séries, etc. Também escrevi algumas destas coisas e daqui senti-me tentada a escrever para o palco, que é uma das coisas mais consoladoras que existem (outra pessoa diria gratificantes, mas eu, não sei porquê, embirro com essa palavra). Não há nada mais bonito do que ver as nossas palavras ganharem vida, e sangue, e alma, pela voz e pelo corpo e pela inteligência dos actores. Adoro actores. Mas não me atrevo a fazer teatro porque não aprendi.

Que mais? Ah, as cantigas. Já escrevi mais de mil e 500 e é uma das coisas mais divertidas que me aconteceu. Ouvir a música e perceber o que é que lá vem escrito, porque a melodia, como o vento, tem uma alma e é preciso descobrir o que ela esconde. Depois é uma lotaria. Ou me cantam maravilhosamente bem ou tristemente mal. Mas há que arriscar e, no fundo, é só uma cantiga. Irrelevante.

Se isto fosse uma autobiografia teria muitas outras coisas para contar. Mas não conto. Primeiro, porque não quero. Segundo, porque só me dão este espaço que, para 75 anos de vida, convenhamos, não é excessivo.
Encontramo-nos no meu próximo romance.

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